Projeto piloto montado no Instituto de Química (IQ) da universidade visa melhorar aproveitamento de minérios extraídos na unidade industrial de Barro Alto.
Uma parceria iniciada em 2020, durante os primeiros meses da pandemia e formalizada no ano passado no Diário Oficial da União (DOU), foi celebrada presencialmente entre o Instituto de Química Universidade Federal de Goiás (IQ/UFG) e a empresa Anglo American, no mês de maio, no campus Samambaia da UFG, em Goiânia. O objetivo do acordo entre as duas instituições é a realização de cooperação técnica e científica, a partir da instalação e operação de uma planta piloto – que é um laboratório no qual são reproduzidos os equipamentos e processos de uma planta industrial, mas em uma escala intermediária. A capacidade é maior do que a que ocorre em testes de bancada e menor do que é encontrado em uma indústria – de lixiviação.
O projeto de pesquisa denominado “Otimização do Processo de Lixiviação Ácida Atmosférica em Planta Piloto dos Minérios Ferruginoso e Ácido Marginal” recebeu investimentos da ordem de R$ 1 milhão e tem validade prevista para outubro de 2024. Ao final do projeto, que pode vir a ter a validade ampliada, os equipamentos ficarão com o Instituto de Química da UFG. Segundo o coordenador de Processos da Anglo American, Marcelo Miranda, a ideia é a possibilidade de estudar alguns minérios que já foram extraídos, estão armazenados, mas não estão sendo utilizados pela companhia. Com os testes que são feitos na planta piloto montada no IQ UFG, a expectativa é encontrar meios para aumentar a produção de níquel e resolver alguns gargalos nos processos da mineradora.
“É um projeto inovador que vai trazer não só resultados para a unidade da Anglo American em Barro Alto como também para vários stakeholders e a universidade é um deles”, afirma Marcelo. O coordenador destaca que o interesse na parceria, além de trazer recursos para a UFG, também contribui para o desenvolvimento de profissionais com conhecimento de mineração, como engenheiros e estagiários, que poderão ser empregados não apenas da Anglo American, como também de outras mineradoras.
Na UFG, a coordenadora do projeto é a professora do curso de Engenharia Química, Indianara Conceição Ostroski. Ela explica que atuam no espaço de 100 metros quadrados, no bloco 1 do IQ, tanto profissionais da Anglo American, quanto docentes e estudantes da UFG nos níveis de graduação e mestrado. A cooperação prevê também a divulgação pela UFG dos resultados obtidos, por meio da publicação de artigos científicos.
Metais de interesse
O estado de Goiás está entre os maiores produtores de níquel do Brasil e a Anglo American é uma das maiores mineradoras que atuam na região. Além dos minérios ricos em níquel atualmente processados na indústria, com a parceria com a UFG, também vai ser possível fazer o processamento dos minérios que possuem maior teor de contaminantes e menor concentração de níquel. Segundo Indianara, ainda não há um processo bem definido para a recuperação dos metais de interesse, devido a existência de composições químicas muito variadas nesses minérios. “Esse beneficiamento do minério vai ser viável tanto economicamente como ambientalmente”, afirma.
A docente conta que, do ponto de vista da pesquisa, o projeto também já está dando frutos. Atualmente há três alunos de pós-graduação, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química; dois estudantes de iniciação científica e quatro bolsistas do Instituto de Química. “Recentemente foi enviado um manuscrito para uma revista de alto fator de impacto e já está sendo avaliado por pares. Eu espero que seja o primeiro trabalho de muitos que a gente possa fazer aqui nessa parceria”, comemora.
A planta piloto também tem recebido estudantes de graduação da UFG e de fora da instituição em visitas técnicas. “O que nós queremos aqui com esse convênio, com a instalação da planta piloto, é formar engenheiros químicos e químicos qualificados que possam atuar no mercado da mineração, aqui no estado de Goiás”, resume a coordenadora.
O diretor do Instituto de Química da UFG, Wendell Coltro, disse que a assinatura deste convênio é um marco. “É a universidade fazendo o seu papel de universidade, trazendo a parceria, aproximando as empresas, por meio de contratos diversos, como esse acordo que estamos celebrando aqui”. Wendell comenta que essa relação tem se repetido em outras iniciativas que estão sendo traçadas. “Goiás é um estado muito rico e algumas das suas riquezas não são exploradas como poderiam, inclusive na área de mineração”.
50 anos da Anglo American no Brasil
O diretor de Operações de Níquel da Anglo American, Eduardo Caixeta, conta um pouco da história da companhia que completou 106 anos de existência globalmente. A empresa iniciou suas atividades na África do Sul com ouro, diamante e depois se tornou uma empresa global. “No Brasil completamos em abril 50 anos de história. Desse período, 41 anos foram presentes no estado de Goiás. Começamos nossa atividade em Niquelândia com a Codemin”, sintetiza.
Segundo Eduardo, “nós começamos a vislumbrar a possibilidade de aproveitar o minério estocado em meados de 2012 como uma forma de aumentar a vida útil da mina. A gente tem aquela ambição de querer trazer algo novo para prosperar. E aqui estamos vendo, sim, o caminho e esse sonho está se tornando realidade”.
O executivo afirma que os resultados obtidos na planta piloto instalada no IQ UFG têm sido positivos. “Nós podemos aumentar a nossa presença aqui no estado de Goiás por mais 50 anos, no mínimo, porque ele destrava muitas oportunidades de desenvolvimento. Então, a gente está aqui pensando em um futuro bastante próspero e pensando principalmente nas comunidades de Barro Alto e Niquelândia, nas quais estamos inseridos”.
A solenidade contou com a presença da reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Pereira de Lima, que reiterou que quando a universidade formaliza convênios dessa envergadura, “está estrategicamente de olho naquilo que um projeto como esse pode de fato oferecer à sociedade e à universidade, que é a possibilidade de formar melhor nossos estudantes. Aqui, a pesquisa está voltada ao seu objetivo que é formar melhor os nossos estagiários, estudantes, cientistas e pesquisadores. Então, esse é um papel importante na relação adicional com as empresas que é fundamental para nós”, ressalta.
Também estiveram presentes à cerimônia de celebração do convênio entre UFG e Anglo American o pró-reitor adjunto de Pós-Graduação (PRPG) da UFG, Wilson Flores; o gerente de Desenvolvimento de Processos da Anglo American, Mario de Abreu Rodrigues; os coordenadores de Processos da Anglo American, Rodisnele Torres e Marcelo Miranda; o coordenador de Relacionamento Institucional e Comunidades da Anglo American, Rafael Santos; a coordenadora do curso de Engenharia Química da UFG, Araceli Aparecida Seolatto; a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ/IQ/UFG), Fernanda Ferreira Freitas; e os professores do IQ UFG e colaboradores do projeto, Margarete Martins Pereira Ferreira e Thiago Leandro de Souza.