As quatro unidades mineradoras da Anglo American localizadas em Goiás – instaladas em Catalão, Ouvidor, Niquelândia e Barro Alto – integram o pacote de venda de ativos para injetar recursos no caixa da multinacional numa possível “debandada” do País.
Segundo analistas, é alto o nível de preocupação com os desdobramentos principalmente em Barro Alto. Com alta aplicação de recursos e consistente declínio do preço da tonelada do níquel no mercado internacional, é possível que, hoje, não haja players interessados pela compra.
Embora tenha assumido o compromisso de anunciar os planos de negócios para seu portfólio somente no próximo dia 16, a Anglo American encaminhou, há cerca de 20 dias, ofício para o Sindicato das Indústrias Extrativista do Estado de Goiás (Sieeg-GO) informando a venda desses ativos.
BARRO ALTO
O Projeto de Barro Alto é visto como uma espécie de elefante branco pelo mercado internacional. Com investimentos de US$ 2 bilhões, a unidade começou a operar em 2011. Entre outubro de 2014 e o último trimestre de 2015, recebeu investimentos para a reforma de dois fornos. A reforma programada, todavia, levou a unidade, segundo a própria empresa, a produzir 35% a menos no ano passado – 10,5 mil toneladas só no último trimestre.
De quebra, segundo especialistas, a unidade vem operando no vermelho por conta das contínuas baixas do preço do níquel no mercado internacional. A tonelada da commodity caiu de US$ 15,9 mil, em dezembro de 2014, para US$ 8,7 mil em dezembro de 2015. “Hoje, com esse cenário, é possível que ela não consiga encontrar um player em todo o mundo interessada em adquirir a unidade”, afirma o presidente do Sieeg-GO, Domingos Sávio Gomes de Oliveira.
Se isso ocorrer, diz, a tendência é que a empresa opere de forma enxuta tanto no quadro de funcionários quanto na parte operacional. Atualmente, o Projeto Barro Alto emprega 900 pessoas diretamente e outras 2,5 mil indiretas. Em Niquelândia, a Codenim, em atividade desde 1982, emprega 450 pessoas.
A melhor das hipóteses seria a venda. Com isso, haveria uma possível redução do quadro de funcionários e uma natural dança das cadeiras, sobretudo, dos setores de gestão. Um especialista, que pediu para não ser identificado, confirma o cenário de dificuldade de venda da unidade de Barro Alto, mas lembra que ainda há empresas bem situadas hoje no mercado.
“Esse é o pior momento para comercialização, mas a Rio Tinto, por exemplo, está bem no mercado. Há investidores tirando dinheiro da China e podem investir, além dos árabes da Mubadala (Development Company), que procuram diversificar fundos”, diz.
Embora a Vale apareça como uma possível compradora, ele acredita que os boatos não vigoram. “Ela também está com problema de caixa”, afirma.
CATALÃO E OUVIDOR
Na outra ponta, estão as unidades instaladas em Catalão e Ouvidor, consideradas as meninas dos olhos da Anglo American no País. Produtoras de nióbio (utilizado na produção de ligas metálicas) e fósforo (fertilizantes) operam com aumento de produção, no azul, e com forte demanda.
A multinacional registrou aumento de 23% na produção de nióbio no quarto trimestre do ano passado e 6% na de fósforo. “Aquela região não deve parar, inclusive, existe mais projeto para o fosfato”, afirma o especialista.
COMUNICADO AO GOVERNO DE GOIÁS
O governo de Goiás foi comunicado há cerca de 20 dias pela mineradora Anglo American da venda de suas duas unidades em Goiás, de exploração de nióbio, em Ouvidor, e de fosfato em Catalão.
A medida faz parte de um plano de reestruturação global da companhia que decidiu vender ativos para se capitalizar. No entanto, a Anglo garantiu que manterá as unidades de exploração de níquel em Barro Alto e em Niquelândia.
A Votorantim foi a primeira mineradora a mexer na sua produção em Goiás. Em 17 de janeiro, anunciou a suspensão da produção de níquel em Niquelândia e em São Paulo, a partir de ontem, e o desligamento de 880 dos 1.012 funcionários.
As mineradoras estão em crise em função da queda dos preços das commodities com a desaceleração do crescimento da China. Há cerca de 10 dias a Moddy’s fez uma revisão para rebaixamento das classificações das mineradoras globais. Havia 55 companhias na lista, entre elas a Anglo American, cujos papéis perderam 75% do valor nos últimos 12 meses.
A expectativa do governo goiano é que não haverá mais surpresas negativas neste mercado em Goiás. A venda dos ativos da Anglo American não foi recebido como um problema, porque os preços do fosfato e nióbio fogem à regra atual.
Goiás também produz ouro, cobre (cotado há um ano em US$ 6 mil a tonelada e que chegou a US$ 4,541 mil na sexta-feira), e vermiculita, além do níquel, com preço em baixa, fosfato e nióbio.
Fonte: O Popular