País é o segundo maior produtor do alimento, mas dolarização da mercadoria desestimula o consumidor interno
O consumo de carne bovina deve cair ao menor nível nos últimos 26 anos, com 24,8 kg consumidos por cada brasileiro durante o ano de 2022, apontam dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com o estudo, a maior proporção da série histórica foi registrada em 2006, quando havia uma disponibilidade de 42,8 kg de carne bovina por pessoa. Alta no preço e insegurança alimentar são fatores que influenciaram na queda do consumo, avaliam especialistas.
Cada vez mais distante da mesa dos brasileiros, principalmente daqueles de baixa renda, o consumo da carne começou a cair quando o Produto Interno Bruto (PIB) per capita teve uma redução, conforme explica o analista de mercado do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Marcelo Penha.
“A renda está diretamente ligada ao consumo, especialmente para os brasileiros que recebem de um a dois salários mínimos, isso interfere diretamente no consumo da carne”, avalia. Entretanto, nos próximos anos, a previsão é que o país retome a economia. “Isso irá promover impacto no consumo da proteína e acredito que isso pode melhorar a partir de 2023, fortalecendo o poder de compra dos consumidores”, aponta. No quesito, produção de carne bovina o Brasil é líder mundial e vem registrando aumento nos últimos anos.
Preço alto
A carne bovina tem se tornado um item de luxo nas refeições. E a tendência pode ser de alta de preço nos açougues. “O custo de produção vem subindo muito, já que a pecuária tem o perfil diferente dos outros segmentos. O porco leva em torno de 120 dias para ficar pronto e a ave cerca de 45 dias. Já o boi demora de dois a três anos”, ressalta.
Somado a isso, a área para produção desses animais também são bem diferentes e com investimentos distintos. “O processo do frango e do suíno são em sistemas confinados em galpões. No bovino é possível realizar a fase de engorda no sistema de confinamento e a outra parte é extensiva, o que demanda muito investimento de capital. É uma carne que pode ficar cada vez mais cara”, prevê.
Demanda externa e fatores cambiais
Mesmo com a redução no consumo por parte dos brasileiros, o mercado de carnes internacional tem ficado bastante aquecido devido à demanda externa pelas compras vindas da China, avalia Luiz Carlos Ongaratto, professor e mestre em economia. “Também temos fatores cambiais, como a desvalorização do real. A carne brasileira ficou mais barata para exportar e, com isso, a produção de carne foi direcionada para fora. Isto fez com que o consumidor brasileiro tivesse que pagar o preço internacional dessa carne”, diz.
O economista aponta que há diversos relatos de famílias que já deixaram de consumir carne bovina e outras que têm optado por comprar em menor quantidade. “Estão fazendo substituições, seja com frango, carne suína ou também por ovos. Um dos reflexos do crescimento no preço dos ovos é o aumento da demanda por ser um alimento substituto da carne. Então, o consumidor vai misturando outros alimentos na carne e utilizando menos quantidades. Atualmente, a carne tem tido um peso grande dentro da cesta básica e é necessário realizar cortes”, finaliza.