O projeto destaca-se como principal iniciativa para o fortalecimento da cafeicultura no estado
Em 2013, um projeto de pesquisa, elaborado por professores do IF Goiano com o apoio do pesquisador aposentado da Embrapa, Dr. Wellington Pereira, foi selecionado por meio de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), voltado ao Desenvolvimento Científico Regional. A proposta previa a avaliação de 35 cultivares de café arábica irrigadas em condições típicas do Cerrado. Assim, deu início à pesquisa pioneira em cafeicultura em Goiás.
A Emater Goiás acompanha o projeto desde as primeiras etapas, colaborando no planejamento e execução dos experimentos, além de apoiar eventos, dias de campo e ações de extensão rural. Atualmente, o foco está na transferência de tecnologia para produtores e na implantação de lavouras comerciais.
De acordo com os pesquisadores, um dos principais objetivos do projeto é tornar o cultivo do café uma alternativa viável para a agricultura familiar. O coordenador da regional Vale do São Patrício, Diego Alves de Lima, conta que os técnicos da Emater Goiás têm atuado na mobilização de associações rurais, assentamentos e grupos de mulheres para participar da iniciativa.
“Com a doação de mudas produzidas no IF Goiano, o apoio técnico que oferecemos, a parceria com a Prefeitura de Ceres, a primeira área demonstrativa foi implantada, contando ainda com o envolvimento de estudantes e produtores locais”, explica o coordenador regional.
Em maio deste ano, foi implantada uma área demonstrativa na Fazenda Franciscano, propriedade da família que é dona do Café Franciscano. No local, foram plantadas 650 mudas de quatro cultivares selecionadas por sua alta produtividade e qualidade de bebida, todas com potencial de bebida com pontuação acima de 80 pontos na escala de cafés especiais. Esta é a primeira área demonstrativa em propriedade privada da região.
“A Emater tem papel essencial nesse processo, orientando agricultores e acompanhando desde o preparo das áreas até o manejo das lavouras”, destaca Cleiton.
Além da unidade demonstrativa da Fazenda Franciscano, desde 2015, tem uma área com cerca de 1500 plantas no IF Goiano – Campus Ceres. A expectativa é implementar novas áreas em outras propriedades da região, ampliando o acesso de produtores à tecnologia e à assistência técnica especializada.
Os resultados iniciais da pesquisa são animadores: algumas cultivares alcançaram o dobro da média nacional de produtividade, mantendo a qualidade da bebida.
“Identificamos cultivares que apresentaram alto desempenho produtivo e grãos com qualidade superior, classificados como cafés especiais”, explica o supervisor Cleiton Mateus, responsável pela continuidade da pesquisa no campus, desde 2015. As condições climáticas do Cerrado goiano, com estações bem definidas e ausência de geadas, um dos principais riscos em outras regiões, são favoráveis à produção de cafés de qualidade. “A maturação dos frutos ocorre em clima mais ameno e seco, o que contribui para a preservação da qualidade da bebida”, acrescenta Cleiton.
O trabalho de análise da qualidade da bebida dos cafés produzidos em Ceres foi realizado em parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), que destacou 11 cultivares com desempenho superior, com notas das bebidas que classificam todas como café especial.
Projeções
A pesquisa tem como objetivo gerar inovação, sustentabilidade e o fortalecimento da agricultura familiar, buscando resgatar a tradição da produção de café na região e projetar um novo futuro para o setor em Goiás.
“Temos condições reais de colocar Goiás no mapa nacional da cafeicultura de qualidade. Com ciência, parcerias e o envolvimento da comunidade, o Cerrado goiano pode se transformar em referência para o país”, conclui Cleiton.
Embora ainda não haja dados sobre o impacto direto na renda dos proprietários, visto que o cultivo na Fazenda Franciscano está em fase inicial e a primeira colheita ocorre após cerca de dois anos, os estudos realizados no IF apontam para o dobro de produtividade em relação à média nacional, o que pode representar uma transformação significativa na cadeia produtiva local.
Com isso, a expectativa é que, nos próximos cinco anos, Goiás passe a figurar entre os estados produtores de café arábica de qualidade. Além de ampliar a produção local, o projeto visa explorar a diversidade de solos e climas do estado para desenvolver cafés com identidade regional e valor agregado. A meta futura inclui ainda a busca por uma indicação geográfica para os cafés goianos.