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Rede de desvios da Afipe envolve empresas de comunicação, postos de combustível e até vice-prefeito de Trindade

Ministério Público apurou que a Associação Filhos do Pai Eterno teria transferido cerca de R$ 120 milhões, em três anos, para empresas e pessoas investigadas. Presidente da entidade, padre Robson teve a prisão pedida, mas foi negada pela Justiça

Uma rede de desvio de dinheiro da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), fundada e presidida pelo padre Robson de Oliveira Pereira, envolve empresas de comunicação, postos de combustíveis e até o vice-prefeito de Trindade Gleysson Cabriny de Almeida (PSDB), conforme denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).

Batizada de “Vendilhões”, a operação do órgão deflagrada nesta sexta-feira (21), cumpriu 16 mandados de busca e apreensão para recolher evidências dos crimes de lavagem de dinheiro, apropriação indébita, sonegação fiscal, entre outros, em relação a doações de fiéis de todo o país. Também foi determinado o bloqueio de R$ 60 milhões em bens da associação.

Segundo as apurações, a Afipe teria transferido cerca de R$ 120 milhões, em três anos, para empresas e pessoas investigadas. De acordo com o MP, o vice-prefeito faz parte do quadro de sócios de empresas que realizaram inúmeras operações imobiliárias entre pessoas jurídicas e a associação, causando prejuízos para a associação.

Também de acordo com o documento, uma empresa de comunicação recebeu, entre junho e novembro de 2018, a quantia de R$ 18 milhões da Afipe. No mesmo período, transferiu R$ 17,5 milhões para uma rede de postos de combustíveis.

O MP também aponta como investigado o presidente da Afipe, padre Robson Oliveira Pereira – que também é reitor do Santuário Basílica de Trindade. O órgão chegou a pedir a prisão do pároco, mas ela foi indeferida pela Justiça.

A promotoria ressalta que o padre administra entidades que recebem mais de R$ 20 milhões mensais em doações de todo o Brasil e estaria usando parte dos valores em benefício de terceiros. Foi constatado que, nos últimos dez anos, a associação movimentou em suas contas mais de R$ 2 bilhões.

Ainda segundo a denúncia do Ministério Público, Robson criou “várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome”. Portanto, todas as “Afipes” recebem doações de pessoas de todo o Brasil, conforme o documento.

O documento detalha que, em nome dessas associações, havia uma produtora, uma rádio, um hotel e várias propriedades rurais. Todas as filiadas da Afipe são presididas pelo padre.

As acusações do MP se estendem a várias pessoas que teriam participado dessa rede de transações que prejudicavam a Associação Filhos do Pai Eterno. Segundo a promotoria, “os indícios são reforçados em função da incompatibilidade entre a natureza das transações com as finalidades da associação religiosa, os vínculos entre pessoas jurídicas diversas e os investigados”.

Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinham vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio, explica o MP.

Afipe

Fundada pelo padre, a Associação Filhos do Pai Eterno mantém um canal de TV e também transmite missas em uma rádio.

Além de toda a programação religiosa, a Afipe é responsável pela Romaria do Divino Pai Eterno, principal festa religiosa de Goiás e considerada uma das maiores celebrações religiosas do mundo. Ao longo de dez dias, são realizadas cerca de 100 missas e mais de 40 novenas, além de procissões, batizados, vigílias, alvoradas e confissões durante os dez dias de festa.

Sobre Osvando Teixeira

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