No início da tarde, o real era a moeda que mais se desvalorizava no mundo.Os juros futuros, por sua vez, vem subindo, o que sinaliza mais dificuldade para a economia no horizonte.
Investidores temem que o discurso radical do presidente dificulte aprovação de reformas e uma solução para os precatórios, com implicações diretas sobre o Orçamento.
Após os atos, a expectativa residia na reação dos outros Poderes, com destaque para as do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em pronunciamento nesta quarta-feira, afirmou que a Constituição “jamais será rasgada” e não há mais “espaço para radicalismo e excessos”.
Lira pediu “um basta” à escalada da crise entre Poderes e se ofereceu para mediar o conflito entre Executivo e O Judiciário. O presidente da Câmara indicou que o futuro será decidido nas eleições de 2022. Nas últimas semanas Lira vinha dando declarações públicas para apaziguar os ânimos do mercado financeiro, ressaltando o respeito a responsabilidade fiscal durante a votação de pautas econômicas na Câmara. Já o presidente do STF adotou um tom mais duro na abertura da sessão de julgamentos da Corte nesta quarta-feira. Fux alertou sobre o desrespeito a ordens judiciais do Supremo e deixou claro que, caso de fato desrespeite ordem judicial do tribunal, seja de qual for o ministro, Bolsonaro vai incorrer em crime de responsabilidade, o que pode resultar na abertura um pedido de impeachment.
— O Lira teve um comportamento esperado, pensando no cargo que ele ocupa. Para o Fux, já era esperado uma não aceitação do tipo de comportamento do Executivo — disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, destacando que o mercado está mais reticente sobre as possibilidades de avanços da agenda econômica.
Perspectivas ruins
Para o gestor de fundos da Arena investimento, Mauricio Pedrosa, a fala de Bolsonaro afasta o investidor estrangeiro, em um momento de liquidez alta no mundo e com a necessidade do Brasil por investimentos.
— Ontem, nós demos um passo para trás em termo de segurança jurídica, que é o que o investidor de longo prazo precisa para trazer dinheiro para cá e nós temos uma necessidade enorme. O Brasil é importador de capital.
Para o gestor, a tendência é que o sentimento negativo continue nos próximos pregões. Isso porque, a resolução de problemas como os precatórios, que vinham sendo tratados com o Judiciário, e a tramitação de reformas ficam mais difíceis com o comportamento de Bolsonaro.
— Ontem, quando ele disse que não vai obedecer a uma ordem Judiciário, isso não pode ser visto como uma coisa normal. Fica muito mais difícil os bombeiros resolverem o problema dos precatórios, que precisa ser encaixado no Orçamento do ano que vem.
Ele complementa:
— Pareceu para o mercado que ele (Bolsonaro) dobrou a aposta, no sentido de afirmar que não vai obedecer uma decisão do Judiciário.
O gestor de fundos ainda destaca que o ambiente de maior radicalização ocorre enquanto o país vive problemas graves como a crise hídrica e a alta da inflação.
— O país amanheceu com os mesmos problemas, que estão esperando resposta há algum tempo, e com um quadro político mais conflagrado e com menor segurança jurídica. E dólar, juros e Bolsa estão mostrando que além dos problemas estruturais que nós temos, vamos afastar possíveis investidores tanto os estrangeiros quanto os nacionais.
Para o economista-chefe do banco Modal Mais, Álvaro Bandeira, mesmo que a agenda dos atos de 7 de setembro já fosse esperada, o tom utilizado por Bolsonaro desagradou o mercado.
— O tom piorou. Vamos ver quais serão as respostas a serem dadas e se, eventualmente, vão aparecer bombeiros para apagar esse incêndio. O que é certo é que isso é ruim para a economia porque atrasa a recuperação e suspende investimentos.